Houve as bandas. E houve os Beatles.
Lyvia Jardim
Sir Paul McCartney é o cara.
Todos parecem concordar com a afirmação acima – de sessentões órfãos da Fab Four à adolescentes que foram descobrir o legado dos Beatles através dos pais ou dos avós.
Remanescente do quarteto também formado por John Lennon, George Harrison e Ringo Starr, o astro desembarcou no Brasil em novembro, após anos de ausência, para shows com ingressos esgotados, filas quilométricas, fãs dispostos a desembolsar o que fosse para ver o ídolo de perto e ouvir, é claro, canções de autoria de “Macca” e sucessos dos Beatles, como Hey Jude e obviamente, Yesterday.
Estão previstas mais duas apresentações, marcadas para os dias 22 e 23 de maio, no Rio de Janeiro.
Tamanho frenesi me fez questionar o seguinte: Até onde vai a Beatlemania?
Para situá-lo melhor acerca dos meus devaneios, preciso, antes de tudo, fazer menção às muitas teorias que buscam justificar o término da banda.
Assim como os fãs mais ardorosos de Elvis Presley, que apregoam que o Rei do Rock não morreu e se encontra muito bem escondido nos pampas argentinos, não é raro ouvir desse ou daquele que os Beatles puseram um fim à sua bem sucedida carreira por causa da Yoko Ono de Lennon ou, mais provavelmente, devido aos constantes atritos entre John e Paul, que como é sa bido por todos, eram mais a “cara” do quarteto do que os outros dois músicos – o baterista Ringo Starr e o guitarrista George Harrison.
Era algo simbiótico: apesar de pertencerem a polaridades distintas, John, o bagaceiro e Paul, “o bom moço” se completavam em talento e composições impecáveis, fatores estes que levaram os Beatles à uma esfera musical atingida por poucos, como o próprio Elvis, Michael Jackson e Madonna (estes, de uma safra mais recente).
Se John se envolveu em uma nuvem de polêmica, que sublimou com sua morte por assassinato, em 1980, Paul McCartney fez carreira solo, continuou em evidência, permaneceu com sua musa, Linda, até o falecimento desta, no ano de 1998, criou seus filhos – a mais famosa deles, Stella, é estilista renomada – se casou novamente, com a ex modelo Heather Mills (o casamento rendeu uma filha, Beatrice e alguns escândalos após o divórcio) e hoje, como todos puderam comprovar em suas apresentações no Brasil, ainda mantém a presença de palco de outrora, apesar do passar dos anos.
É capaz de levantar multidões, emocionar, colocar milhares para cantar junto e pedir bis.
Só que, preciso perguntar, quantos, destes milhares, realmente se deixou levar pelo legado dos Beatles? E quantos se deixaram levar pelos outros quantos?
O Beatles e a moda, não aquela moda, a outra.
Quem possui conta no Twitter – e te garanto que a parcela é grande, frente à popularidade que o microblog possui – sabe do que estou falando.
A apresentação de Sir Paul McCartney, como esperado, foi, em novembro, parar no “Trending Topics” dos assuntos mais comentados do momento.
Muitos diziam querer estarem na apresentação, outros, exaltavam o vozerio do ídolo. Tudo muito natural, se tratando de um cantor talentoso e conhecido mundialmente.
No entanto – e não quero parecer julgadora – tive que me perguntar, em pensamentos, se todos os elogios rasgados eram mesmo necessários.
Porque assim como qualquer coisa que ultrapassa a linha do refinado e atinge o conceito de 'usual', os Beatles assumiram contornos da chamada banalidade.
Não que isso retire o seu talento ou o seu valor para a música. Mas são tantos os que dizem adorar os músicos de Liverpool e não sabem outra canção senão as famosíssimas Yesterday, Hey Jude e Twist and Shout – esta, acredito que a massa mais jovem tomou conhecimento devido ao filme Curtindo a vida adoidado, sucesso dos anos 80, onde o personagem Ferris Bueller entoava Well, shake it up baby now em uma cena antológica – que sinto um formigamento incômodo no estômago.
Serei bem precisa: Há momentos os quais Beatles se fazem muito presente no meu cotidiano.
Momentos os quais preciso escutar Yesterday – lá vem ela! - para me sentir mais tranquila ou momentos os quais desejo escutar Something tamborilando num violão rústico. E All you need is love.
Momentos os quais me imagino com uma embalagem de xampu na mão - fazendo as vezes de microfone - e cantando a plenos pulmões Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band.
Ou, como já aconteceu, uma necessidade quase surreal de ouvir a versão melancólica que a atriz Evan Rachel Wood conferiu para a meiga Blackbird, no filme Across the Universe.
Mas também há horas em que o som deles não se enquadram em minhas necessidades, entendem, meus caros?
E acredito que é um funcionamento para chamar de “normal”, quero dizer, quem nunca acordou levado pelo grunge do Nirvana ou vai lá, o Deixa a vida me levar de Zeca Pagodinho?
Ampliem os leques, meus queridos!
Não confundam gostar de Beatles com PRECISAR gostar de Beatles.
Não é uma obrigação.
Curti. Eu acho importante ouvir Beatles. É praticamente o retrato de um período da história. Mas não adianta ouvir o NOME Beatles. Tem que ouvir a música. E pensar se, de verdade, o som agrada. Não é poque é os Beatles, que você precisa, necessariamente, sucumbir!
ResponderExcluirPs: mas meus filhos vão ouvir, tá? rs