Hoje, é o dia da mentira.
Dizem que o Brasil é feito de mentirosos, então te convido a celebrar a estupidez humana.
Espere aí, é mentira. E o BBB do título pode não se referir ao famigerado reality show da Rede Globo, mas, de certa forma, é ligado a tal programa.
Antes de mais nada, explico que o BBB é, simplificado, o início da famosa canção de Ary Barroso, Aquarela do Brasil, que entoa: "Brasil, meu Brasil Brasileiro..."
A olho nu e cru, tais palavras parecem nada mais que um emaranhado de bra, bra, bra e sil, sil, sil.
Entretanto, a semiótica da coisa explicaria que embutido ali, no prelúdio da clássica composição, existe uma força que desbrava o país canarinho.
Uma força sutil, mas patriótica. Que dá margem a várias interpretações acerca de nosso território.
Em suma, O "Brasil, meu Brasil Brasileiro" pode ser o Morro da Urca, a Chapada Diamantina, o Palácio dos Bandeirantes, a caatinga nordestina, o cerrado.
Pode ser o que o ouvinte quiser e eu, como ouvinte, quero que tais palavras explicitem dois acontecimentos que ocorreram nesta semana, aqui mesmo, no Brasil.
Progresso
Na última terça feira, dia 29 de abril, a 11ª edição do Big Brother Brasil sagrou Maria Melillo campeã.
A jovem, que se apresenta como atriz - mas, segundo as más línguas, é adepta daquela considerada a "profissão mais antiga do mundo" - foi tida, nas palavras do apresentador Pedro Bial, a estrela de um programa morno, alinhavado por pouquíssimas polêmicas e muitíssimas personagens rasas, tão rasas, mas tão rasas, como um pires.
Bial não disse isso, é claro.
Mas a baixa audiência - 29 pontos e 49% de share - da grande final do reality show, não mente. O Brasil já não é o mesmo do meso longíquo ano de 2002, quando votou e concedeu 500 mil reais à Kléber Bambam.
Baixa audiência ou não, o fato é que Maria Melillo, também conhecida como Meg e estrela do citado programa e de tantos outros voltados para o público adulto, levou para casa a bolada de 1,5 milhões de reais.
A vitória fez com que críticos, telespectadores e pessoas que acompanharam o reality show pelos ouvidos, apregoarem que o Brasil, enfim, progrediu.
O preconceito, enfim, mostrou objetivamente que está fora de moda e que o enredo do filme "Uma Linda Mulher", onde a personagem de Julia Roberts, Vivian, triunfa ao encontrar o amor com Richard Gere 20 anos mais novo, pode ser aplicado na realidade.
Afinal, além de muito dinheiro no bolso, de quebra, Maria Melillo levou para casa um médico boa pinta, Wesley, este, vice campeão do programa. O Brasil ainda gosta de romance.
Retrocesso
Um dia antes da vitória de Maria Melillo, o humorístico CQC, da Band, levou ao ar uma entrevista com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Questionado pela cantora Preta Gil - em quadro pré gravado - sobre o que faria caso o filho viesse a se apaixonar por uma negra, o político mandou na lata: "Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro este risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambientes, como lamentavelmente é o seu".
A resposta foi a deixa para que gays, héteros, negros, brancos, pardos, sulistas, paulistas e nortistas se voltassem contra Bolsonaro, afirmando, categoricamente, que o deputado fora racista em sua colocação.
Não quero me fazer de espadachim e fazer de Bolsonaro uma donzela de Camilo Castelo Branco.
Mas porque não pedir, também, a cabeça de tantos eleitores, além da de Bolsonaro?
Por mais infeliz que tenha sido em sua declaração, Bolsonaro não deve ser a única cabeça na bandeja de Salomé.
Até porque, não há, nesta novela, um Herodes e uma Herodias.
Preconceito é subjetivo. E está na mente de cada um, dos gays, dos héteros, dos negros, dos pardos, dos sulistas, dos paulistas e dos nortistas.
Seja em nossos dias ou na época do Descobrimento do Brasil. Na Belle Époque. Na tão discutida escravatura. Na ditadura militar.
Preconceito é atemporal.
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