Por Luiz Felipe
Alguns anos atrás, Bernard Goldberg publicou um livro intitulado Bias, que em português significa "parcialidade" ou "parcial". A obra foi recorde de vendas e ocupou o primeiro lugar da The New York Times Bestselling books list. Qual era o tema abordado? A parcialidade da grande mídia.
Em 2008, durante as eleições norte-americanas, Bernard Goldberg – que é repórter da Fox News, ganhador de nove prêmios Emmy, seis por suas reportagens na CBS News e três pelo seu programa na HBO, Real Sport – testemunhou algo que, em suas palavras, foi além da parcialidade; algo que foi um lacrimejante caso de amor; uma história verdadeira e patética; um tórrido romance entre Barack Obama e a grande mídia. E foi nessa ocasião que ele teve a idéia de escrever aquele que seria seu mais novo best-seller: A Slobbering Love Affair: The True (and Pathetic) Story of the Torrid Romance Between Barack Obama and the Mainstream Media (Washington, Regnery, 2009).
Com uma linguagem clara, dinâmica, cheia de sarcasmo e ironia – resvalando, por vezes, em indignação incontida – o autor analisa ao longo dos 21 capítulos do livro alguns casos que exemplificam aquilo que todos testemunharam de uma forma ou de outra: o esforço que a grande mídia despendeu em favor de Obama, seja para mostrá-lo de forma positiva, seja omitindo e diminuindo a importância de aspectos que abalariam a imagem do "Escolhido". Tudo muito bem documentado em um excelente trabalho de pesquisa.
Eis algumas pérolas que o autor recolheu e expôs no primeiro capítulo.
Lee Cowan, correspondente da NBC News, disse o seguinte sobre a cobertura da campanha, quatro dias depois que Obama venceu as prévias democratas: "É muito difícil permanecer objetivo. Quando Obama fala a energia é infecciosa".
David Gergen, repórter da CNN, disse a respeito de um discurso de Obama: "De muitas maneiras foi menos um discurso que uma sinfonia. Se movia rapidamente, velozmente, ao mesmo tempo inspirador, daí tornava-se íntimo, devagar...Foi uma obra-prima."
O trabalho dos jornalistas Chris Matthews e Keith Olbermann, ambos da rede de TV MSNBC, é abordado nos capítulos 2 e 3, respectivamente.
Logo depois da eleição, Matthews disse: "Quer saber? Eu quero fazer tudo o que eu puder para fazer essa presidência dar certo. Sim, esse é o meu trabalho, porque neste momento este país precisa de uma presidência bem sucedida."
E depois de um discurso de Obama na Invesco Field, Keith Olbermann disse: "Por quarenta e dois minutos nenhuma nota azeda, e uma fala tão bem articulada, de uma forma típica da criação de ficção". E completou: "Eu adoraria encontrar algo que criticar. Você achou alguma coisa?"
Mas os dados do livro vão além do que os jornalistas da grande mídia disseram sobre Obama. Nos capítulos 8 e 11, Bernard Goldeberg expõe e analisa uma outra estratégia que revela a parcialidade da mainstream media: a ocultação. Nesses capítulos, é abordado como a mídia não cobriu devidamente duas das mais importantes relações de Obama: a com Jeremiah Wright (pastor radical e, segundo o próprio Obama, seu guia espiritual por 20 anos, que afirma ser o governo dos EUA influenciado pela Ku Klux Klan, e ter criado o vírus da AIDS para erradicar os negros) e a com Bill Ayers (terrorista ligado ao grupo Homens do Tempo, que plantou bombas no Capitólio e no Pentágono na década de 70).
O autor ainda analisa por que a mídia foi tão a favor de Obama (Capítulo 4), e descarta a possibilidade de uma conspiração dos meios de comunicação. Segundo o autor, o motivo que levou a grande mídia a apoiar Obama foi a "culpa do branco liberal" (título do capítulo). Analisa também o que chama de Palin Derangement Syndrome ou PDS (Capítulo 5), ou seja, a repulsa que a grande mídia demonstrou em relação à Sarah Palin, candidata a vice-presidência pelo partido republicano,que foi severamente criticada, e teve a vida devassada pelos meios de comunicação.
Para corroborar as suas análises, Bernard Goldberg apresenta também pesquisas quantitativas sobre a atuação da mídia. Tais pesquisas foram produzidas pelo Projeto pela Excelência em Jornalismo (The Project for Excellence in Journalism) e pelo Centro de Pesquisas Midiáticas (The Mídia Research Center), que coloca numericamente aquilo que qualquer espectador e leitor atento percebeu: a grande mídia adorou Barack Obama e desprezou McCain e Palin.
Enfim, Goldberg, experiente jornalista, nos apresenta de maneira articulada e concentrada o papel indigno a que a grande mídia se prestou nas últimas eleições norte-americanas, e cuja consequência - apresentada pelo autor na Conclusão - é a falta de credibilidade que vêm sofrendo os meios de comunicação. Triste realidade.
Triste, mas merecida. Afinal, o que podemos concluir quando um jornalista diz sobre Obama e sua esposa Michelle: "Eles são pessoas legais. Eles são realmente legais. Eles são Jack e Jackie Kennedy quando você os vê juntos. E eles são bonitos, e eles são legais...Tudo parece ser genial. Eu sei que estou vendendo aqui e agora. Eu não deveria vender"? O que concluir, senão o que o próprio Bernard Goldberg concluiu quando viu isso: "Prostitutas", disse Goldberg, "vendem o tempo inteiro".
Nenhum comentário:
Postar um comentário