“Educação é uma coisa, cultura é outra. Envolve arte, música. Tiririca é um artista do Brasil. O chamado Palhaço Tiririca é alguém que, com suas próprias pernas, chegou à posição que chegou. É meritocracia mesmo, não é acidente”.
Foi isso que disse Lincon Portela, líder do Partido da Republica na Câmara do Deputados ao justificar a escolha de Tiririca para Comissão de Educação e Cultura da casa.
Agora eu pergunto: quem convidou Tiririca para se candidatar? Quem pagou sua campanha? Quem lhe deu orientação e o assessorou?
Ora, Tiririca não chegou lá “com suas próprias pernas”. Ele foi levado para lá, com apoio político, apoio financeiro, apoio estratégico, apoio de 1.353.820 de pessoas. E não foi motivado apenas pelo “espírito pluralista e democrático” de quem o convidou e o apoiou: com a votação recorde, o palhaço levou outros três para Câmara dos Deputados.
Levar aos píncaros do poder uma figura "marginalizada", do povo, não é, em si mesmo, algo bom: por mais que uma pessoa tenha sofrido em sua vida, dar-lhe poder para efetuar ações que fogem da sua capacidade e compreensão é antes uma irresponsabilidade do que uma "correção de males históricos" ou respeito democrático. Ora, por que ter essa liberalidade com o cargo de deputado e não ter com o cargo de médico, por exemplo? Por que dar espaço aos ineptos no Congresso é "justiça", “caráter democrático”, “pluralismo”, e na chefia de neurocirurgia do Hospital das Clínicas é crime?
Não é preciso ser muito inteligente para saber que os impactos das decisões políticas são muito maiores do que o das decisões médicas. Se estas podem provocar danos a algumas dezenas ou centenas de pessoas, aquelas afetam, necessariamente, milhões.
Como devemos entender esse acontecimento? Alguns fazem piada. Outros vêem a situação como um avanço da democracia brasileira. Mas há os que afirmam: isso é uma piada sinistra.
Corajoso o seu texto, Luiz. É importante mesmo destacar o que todo mundo considera como equívoco eleitoral, apesar dos mais de 1,3 mi de votos dados ao Tiririca.
ResponderExcluirFico pensando no significado político da "piada": não seria esta um indicativo do desprezo que amplos segmentos da sociedade têm pelo poder público em geral?