quinta-feira, 24 de março de 2011

Amola, Amolite

Por Lyvia Jardim


Leitor, antes de mais nada, questione-me. 
Porque Amola, Amolite? Eis os motivos que levaram ao título - e a escolha dele.


Amola...


Vem justamente do verbo. Amolar, amolei, amolou. Eu amolei uma faca hoje. Amolei meu pai, no sentido figurado. Pretendo mandar, em breve, um alicate de unha para amolar.Ele precisa ficar flexível. 
Assim, como a Justiça assumiu uma faceta flexível e decretou, na última quinta feira, a prisão de quatro policiais que balearam um adolescente de 14 anos em Manaus, no ano passado.
Ainda que tardiamente, o governo brasileiro remexeu os alambrados e deu ordem de prisão - preventiva, diga-se de passagem - aos responsáveis pela quase execução do jovem.
Os motivos para tal ato ainda são obscuros e provavelmente Sigmund Freud gastaria horas de seu relógio de carrilhão para argumentar, do ponto de vista psicológico, o que leva homens que dizem zelar por vidas tentarem destruir uma.
Citei o caso, cujo desdobramento está sujeito aos vaivéns governamentais e pode apresentar surpresas daqui um dia ou uma semana, pois o mesmo me lembrou um acontecimento regional.
Para o leitor que não mora no Alto Tietê ou sequer ouviu uma menção a respeito do fato, ofereço uma leve pincelada: O menor Alan Patrick, de 17 anos, saíra da cidade de Suzano, onde residia, para furtar uma moto na próxima Mogi das Cruzes.
Após o furto, iniciou-se uma perseguição policial, que culminou com Alan acuado nos confins de um bairro longíquo chamado Jardim Maitê.
Segundo testemunhas, barulhos de tiros foram retumbantes o suficiente para supor que a vida de Alan foi dada por encerrada ali mesmo, no bairro com nome de atriz famosa.
Nenhum corpo foi encontrado, é verdade, apesar dos rastros de sangue e as evidências de que os restos mortais do adolescente estejam - ou não - em um trecho do rio Guacá, em Bertioga.
A única certeza é que se houve o disparo de uma arma de fogo - e houve - tal disparo foi feito pelas mãos de um ou mais policiais, que provavelmente fizeram um juramento de proteger a sociedade e esqueceram de proteger a si mesmos.
Alan Patrick podia, quem sabe, não ser um modelo de adolescente. Mas tinha sonhos. 
Talvez estivesse destinado aos pequenos furtos e à viver com os pés na marginalidade. Ou, se a vida permitisse, cursaria uma faculdade, cultivaria uma família, compraria carro, casa e o que a situação monetária autorizasse. Se dali alguns anos ainda existissem os tablets, adquiriria um. Talvez não banhado a ouro e amolite, como uma edição limitada do IPad 2, mas adquiriria.


Amolite.


Foi anunciado esta semana que o tablet IPad 2, da Apple, terá uma edição limitada banhada a ouro e diamantes.
A fabricante não é a gigante tecnológica com símbolo de maçã e sim, uma empresa chamada Stuart Hughes, especializada em cintilar objetos de diversos segmentos com pedras preciosas.
Se a versão mais barata do IPad 2 está sendo comercializada por 500 dólares, nos Estados Unidos, o aparelho da Stuart Hughes é estimado no equivalente a 8 milhões de reais.
Vem, além dos já citados ouro e diamantes, adornado com uma pedra de valor quase inestimável, batizada como amolite.
A simples divulgação de imagens do produto, feita, logicamente, pela internet, gerou a afirmativa de que o mesmo será tocado e utilizado pelos que possuem poder aquisitivo suficiente para desembolsar a bagatela de vários dígitos.
Ao restante, sobra almejar ou desdenhar de que o mundo está cheios de policiais que não são policiais, de traficantes que são traficantes e problemas que são e se tornam mais discutíveis a cada segundo de um mundo previsto para acabar em 2012.
Ou quem sabe, resta sonhar... 
Como teria feito tantos Alan Patricks, Josés, Joãos e Antonios.

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